quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Você tem medo de quê?


Estou deitada no colo da minha mãe no sofá da sala. Há apenas a luz que vem da televisão. Sinto meu corpo ficar mole, lento... Não sei o que se passa, mas sinto que as coisas não estão normais. - Como eu não sei o que é isso, não vou falar com a minha mãe. Sono, muito sono.

Tempo...


E o dia em que eu não existir mais? Que eu morrer? Para onde será que vai o meu pensamento? Será que ele simplesmente some? Será que ele vive em outro lugar? Como é que eu poderia saber isso? Como será isso?

Fechei os olhos e franzi o rosto, apertando-os. Minhas mãos fechadas tentavam contribuir para o feito, levadas ao rosto. Eu ainda estava deitada no colo da minha mãe, mas era como se nesse gesto eu pudesse fazer que o pensamento se descolasse do corpo. Queria saber onde seria capaz de chegar...

A lembrança acaba aí... não me recordo mais o que aconteceu. Essa é a mais remota que eu tenho e buscando um elo com as histórias que minha mãe conta, essa passagem coincide com o dia em que eu quase morri intoxicada com agrião aos quatro anos. Fui levada às pressas ao hospital, já com os lábios roxos - após adormecer no sofá depois de jantar...


É claro que, como toda lembrança que fica empoeirada ao longo dos anos, a imagem que eu retrato agora esteja revestida com as interpretações que faço hoje daquelas sensações, ainda vivas na memória. E toda vez que eu me pego diante de algo que eu esteja com medo, essa sensação, essa lembrança vem à tona.

Ainda que eu não esteja brincando de jogo da verdade comigo mesma, é desconfortável tocar nos nossos próprios receios. Tentar falar um pouco desse lado tão guardado por nós, a sete chaves. A sensação é de que se eu tiver coragem de acender a luz, só então saberei distinguir quais são os monstros de verdade daqueles que são apenas fantasmas bobos. Ao falar sobre meus medos é o meu lado corajoso que propõe isso.


Uma das certezas sobre meus medos é que a cada dia me acovardo mais.
Posso dizer que sou muito mais medrosa hoje se comparado há 10 anos atrás. E há também aqueles medos que já são de estimação (essa foi péssima, admito rs), como o medo da morte, de perder os entes queridos, medo gigante de altura (chega a dar aquele suor na palma das mãos)... Aqueles que poderiam ser considerados, numa escala, como medianos são o medo de perder os amigos (seja por morte, seja em vida - através de brigas, desentendimentos..), de não conseguir ser uma boa profissional, de não conseguir encontrar a minha metade (eu sei que anda por aí...), medo de envelhecer sem boas condições financeiras, medo de ter medo demais e por isso não aproveitar o bom da vida, medo de perdoar e de não ser perdoado (contraditório, não?), medo de ter decepções, de ser injusta. Medo de tentar outra vez, medo de ser esquecida, medo de generalizar demais o mundo, medo de não gostar o suficiente de mim. Medo de não demonstrar amor àqueles que amo, no meu cotidiano. Essas coisas.


Um outro medo mediano, mas que eu diria que é um desses adquiridos recentemente, é sobre a maternidade. Surpreendente será, para aqueles que me conhecem, ler o que estou assumindo aqui. Todos sabem que nunca tive o desejo de ser mãe, mas tenho tido umas angústias de como se o tempo fosse acabar antes que eu pudesse dar minha contribuição aqui no mundo (como se precisasse...já tem tanta gente nesse mundão...rs). De uma hora para outra me pareceu imprescindível isso, de que eu ainda quero ter um filho. Mesmo depois de todos esses anos pregando de que pode ser uma loucura dar um mundo desse que nós temos, com tantos poréns e injustiças, para alguém viver nele. No final das contas, o que vale dizer é que ainda dá tempo....rs (ufa!).

Até que chegamos aos menores medos: de barata, de lacraia, de ladrão, de que chova muito, do salário acabar antes do término do mês, de que esqueçam do nosso aniversário, de levarmos bomba na faculdade, de levarmos bolo num encontro, de acabar a luz, de levar esporro em casa quando chegarmos tarde da noite (ou madrugada), de exagerar na dose (todo excesso em si, assim como o de beber também rs), de entrar no mar, de aprender a dirigir (calma, que já estou na auto escola rs), de barulhos estranhos durante a noite, de trovão, de relâmpago, de achar um bicho na comida, de chegar atrasada, de cair de bicicleta (acho que é por isso que nunca aprendi a andar rs), de filme de terror, de não ganhar carinho, do dente doer...enfim, medinhos....

E você? Tem medo de quê?
Esse medo te incomoda? Ou você tem coragem de encará-lo?


Um beijo!



5 comentários:

BLOGDOED disse...

Teu post me lembrou esse blues

Tenho Medo
Nuno Mindelis

Composição: Nuno Mindelis

Tenho medo de microondas
Tenho medo de aspartame
Tenho medo de fritura
E tenho medo de madame

Eu tenho medo da cidade
medo da solidão
Eu tenho medo de ser duro
E medo de dizer ou não

Tenho medo de barata
de aranha e de ladrão
Medo disso e daquilo
E medo de multidão

Eu tenho medo de mim mesmo
de você ou do vizinho
Eu tenho medo de remédio
E medo de andar sozinho
Eu tenho medo
Medo

Tenho medo de automóvel
e de engarrafamento
Tenho medo de açúcar
De sair do apartamento

Tenho medo de TV
E de gordura hidrogenada
Do presidente americano
De caminhão e de fada

Tenho medo de celular
Tenho medo de avião
Tenho medo de dirigir
E de tomar a decisão

Tenho medo de ter medo
E de não ter medo também
Tenho medo de ir embora
E tenho medo de ir além

Eu tenho medo
Eu tenho, eu tenho
Eu tenho medo

Tenho medo de altura
E de ir à praia no feriado
Medo de elevador
E de tudo que é fechado

Eu tenho medo de dormir
E de ficar acordado
Medo de minha própria sombra
E da sua ao meu lado

Eu tenho medo de barata
de aranha e de ladrão
Medo disso e daquilo
E medo de multidão

Eu tenho medo de ter medo
E de não ter medo também
Eu tenho medo de ir embora
E tenho medo de ir além
Tenho medo

Eu tenho, eu tenho, eu tenho
Eu tenho medo

Rafael Portillo disse...

Parabens. Você tem um senhor blog aqui. O visual simples não prejudica.
Seus textos são maravilhosos. Acho uma pena ter tão poucos comentários!
Você escreve maravilhosamente bem. Seu texto jorra sua personalidade!
Com certeza gostaria de bater um papo com você, se quiser.
Eu entendi bem o seu texto e você pode ter certeza que conseguiu um leitor fiel. Vou salvar o link e sempre que puder estarei aqui.
Você esta de parabens.

http://rafaelportillo.blogspot.com

Andréia Silva disse...

Tenho alguns medos...
Parabéns pelo blog! Serei leitora assídua! Vou te "linkar" no meu!
Abraço.

Anônimo disse...

Pois é, medos são pontos fracos que nos deixam vulneráveis, por isso, muitos não os expõe.

Eu sou um medroso nato, mas, não de coisas simples.

texto bem interessante, bem pessoal. Gostei!

-
How! Brigadão pela simpatia!
hehehehe
às ordens, ok?
sempre que quiser, dá uma passada lá, se quiser trocar links também, avisa.

bejo.

Pordeus. disse...

isso aee *-*